Introdução à Qasida Burdah: O Poema Mais Famoso do Mundo

A Burda do Imam al-Busiri pode ser o poema mais famoso do mundo. É provável que você tenha ouvido trechos dela ao crescer ou em algum momento. É aquele famoso nasheed “mawlaya salli wa sallim” que muitos conhecem e cantam. Na Burda encontramos elementos da biografia do Profeta Muhammad ﷺ, sobre espiritualidade, envio de bençãos ao profeta e informações sobre a virtude e caráter do profeta ﷺ, tudo em um só texto. É um poema que contém muitos segredos profundos – até mesmo milagrosos.

Hoje, 800 anos após ter sido composto, esta ode ao Profeta ﷺ é provavelmente o poema mais recitado do mundo.

Por quê?

Primeiramente:

Ler, cantar e recitar a Burda é um meio de fortalecer o amor pelo Profeta Muhammad ﷺ e a conexão com ele. E a conexão com o Profeta ﷺ é um dos melhores meios de buscar o perdão, a misericórdia e o prazer de Allah, o Altíssimo.

Quão famosa é a Burda? É difícil medir a fama de um poema.

Mas, considere o seguinte:

Existem bem mais de 1 bilhão de muçulmanos no mundo. E é provável que quase todos eles estejam familiarizados com a Burda.

A Burda é regularmente cantada em reuniões semanais, mensais e anuais em dezenas de países e em uma ampla variedade de culturas. Essa tradição continua há centenas de anos até os dias de hoje. Embora, novamente, seja impossível medir, parece que a Burda alcançou um nível único de aceitação mundial, atravessando barreiras linguísticas e culturais.

Essa atração universal pela Burda sugere que, ao escrever este poema, o autor se conectou com algo profundo e universal.

Quem foi Imam al-Busiri?

O Imam al-Busiri, o autor da Burda, é menos conhecido que seus poemas.

Dado que diferentes biógrafos e historiadores documentaram versões variadas… não se sabe muito com certeza sobre a vida do Imam al-Busiri. As fontes indicam o seguinte:

O nome completo do Imam al-Busiri era Abu Abdullah Sharaf al-Din Muhammad ibn Sa’id al-Busiri al-Sanhaji.

Ele era do clã Banu Habnum, um importante ramo da tribo berbere Sanhaji do Norte da África.

É relatado que o Imam al-Busiri nasceu em 608 AH (1211 EC) e faleceu em 691 AH (1294 EC), aos 83 anos de idade.

O Imam al-Busiri memorizou o Alcorão ainda jovem e mudou-se para o Cairo para buscar estudos mais avançados. Diz-se que ele dominou várias ciências islâmicas, incluindo língua e gramática árabe, linguística, literatura, história islâmica (Tariqh), exegese do Alcorão (Tafsir), teologia (‘Aqidah), lógica, debate e biografia do Profeta (Sira).

Diz-se que entre os alunos do Imam al-Busiri estavam o Imam Abu al-Hayyan al-Gharnati e o Imam Fath al-Din ibn Sayyid al-Nas.

No prefácio da tradução inglesa cantada da Burda de Mostafa Azzam, Abdul Aziz Suraqah escreve que, enquanto estava no Cairo, o Imam al-Busiri “ganhava a vida escrevendo caligrafia em lápides. Ele logo se tornou famoso na região por sua habilidade poética e lirismo, e foi contratado por alguns funcionários do governo egípcio como escrivão municipal e poeta da corte. Seu trabalho era escrever poesia em louvor ao Sultão.”

Uma grande mudança na vida do Imam al-Busiri ocorreu quando ele se tornou aluno do Sheikh Abu al-Abbas al-Mursi, um professor da ordem Shadhili. Naquela época, o Imam Abu al-Hasan al-Shadhili ainda estava vivo, e o Imam al-Busiri escreveu uma famosa elegia para o Imam al-Shadhili após sua morte. Muitos dos contemporâneos do Imam al-Busiri, que também eram colegas de estudo do Sheikh Abu al-Abbas al-Mursi, são famosos até hoje, incluindo Ibn Ata’Allah al-Iskandari e o Sheikh Izz al-Din ibn Abd al-Salaam.

Diz-se que outro grande catalisador para o crescimento espiritual do Imam al-Busiri foi sua peregrinação (Hajj), que ele realizou em 653 AH (1255 EC).

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A doença do Imam al-Busiri

Diz-se que um dos segredos da Burda é que seu autor, o Imam al-Busiri, escreveu o poema enquanto estava em um estado de completa fragilidade e necessidade, e de total humildade perante Deus.

Os comentadores explicam:
“Artistas ganham vida quando calamidades surgem, e o maior poema do Imam al-Busiri foi o resultado de uma poderosa tribulação quando ele acordou e descobriu que estava paralisado. De repente, esse homem — cuja erudição e arte o elevaram ao status de príncipe dos poetas — foi reduzido a um inválido incapaz de se levantar da cama. Dentro desse estado de aflição reside a chave para o legado da Burda.”

Antes dessa experiência, o Imam al-Busiri já era um poeta famoso no Cairo, amplamente reconhecido pelos ricos e poderosos de sua sociedade. Ele havia recebido muitos elogios por seu trabalho. No entanto, de repente, ele se viu em uma situação em que ninguém na terra, por mais influente que fosse, poderia ajudá-lo de forma alguma.

O sonho do Imam al-Busiri

Uma versão da história, narrada com uma cadeia completa de transmissão até o Imam al-Busiri, é traduzida da seguinte maneira:

“Eu já havia composto muitos poemas em louvor ao Mensageiro ﷺ; entre eles, alguns sugeridos por Zayn al-Din Ya’qub ibn al-Zubayr. Então, aconteceu que fui acometido por hemiplegia, que deixou metade do meu corpo paralisado. Nesse momento, pensei em compor o poema [ou seja, a Burda], e assim o fiz. Com ele, pedi intercessão a Allah e que Ele me perdoasse. Recitei-o repetidamente; chorando, orando e suplicando.”

O Imam continuou nesse estado por algum tempo. Mas, uma noite, algo milagroso aconteceu.

É relatado que o Imam al-Busiri adormeceu enquanto recitava o verso de número 8 e que, durante esse sonho, o Imam teve a honra de recitar a Burda para o Profeta ﷺ.

Sim, a figura do meu amado veio a mim e proibiu-me de dormir,
Pois o amor sempre traz o contraste de prazer e dor.

— Qasida Burda, capítulo 1, verso 8

O Imam al-Busiri continuou recitando o poema em seu sonho, com o Profeta ﷺ como seu público. No entanto, após recitar 50 versos, o Imam chegou a um verso que ainda estava incompleto:

Tudo o que podemos afirmar com certeza sobre ele ﷺ é que é um homem
e que é a melhor das criaturas de Deus.

— Qasida Burda, capítulo 3, verso 51

Após recitar a primeira metade do verso, o Imam al-Busiri fez uma pausa.

Então, milagrosamente, o próprio Profeta ﷺ completou o verso.

Os comentadores explicam:

Chegando ao verso 51, o imam recitou a primeira frase e parou, pois não havia terminado o poema. Então, o momento mais eufórico aconteceu: o Profeta ﷺ completou com a segunda frase: “e que é a melhor das criaturas de Deus.” Assim, demonstrando a aceitação da Burda.

Devido à sua origem única, os comentaristas observam que este verso possui um status especial dentro do poema:

“O verso 51 deve ser recitado três vezes, durante as recitações, devido ao seu significado.”

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Natureza Única da Burda

A Burda é uma raridade literária, levando os leitores para outra realidade. Cada verso está profundamente enraizado na história e tradição islâmica; simbolizando a mensagem universal do Islã de amor, paz e diversidade, contextualizando a importância do Profeta Muhammad ﷺ, cuja misericórdia, compaixão, bondade e caráter perfeito são a bússola moral de todos os muçulmanos.”

Esse verso, especialmente com sua conclusão pelo próprio Profeta ﷺ, reflete a aceitação espiritual da Burda por Allah e Seu Mensageiro ﷺ, dando-lhe um significado singular em meio a outras obras poéticas.

A Burda é feita para ser vivida: para ser experimentada não apenas pelos olhos que a leem, mas também pelas vozes que a cantam e pelos ouvidos que a escutam. Celebrar o Profeta Muhammad ﷺ não é um esporte de espectadores ou uma apresentação para ser assistida e apreciada à distância. É uma expressão de amor, ou um esforço consciente para abrir-se ao amor e recebê-lo.

A esperança da intercessão

O autor, ao longo da canção mostra sua posição de fragilidade, ao ter vivido uma vida mundana e cheia de pecados e assim, deposita suas esperanças na intercessão do Profeta ﷺ junto a Allah.

No entanto: pequei, mas não rompi meu pacto com o Profeta,
nem cortei o laço que me une a ele.

— Qasida Burda, capítulo 3, verso 145

Não é do seu feitio negar-se a quem espera sua generosidade
ou dispensar, sem mostras de respeito, o vizinho que o procura.

— Qasida Burda, capítulo 3, verso 148

Embora reconheça suas falhas, o autor ainda é otimista; o Islã é a religião da esperança, e Allah é como nós O percebemos. Portanto, mantendo a base da fé, a promessa de uma pessoa com Allah e Seu Profeta ﷺ sempre permanecerá intacta.

Nesse espírito de esperança, a Burda conclui com esta súplica pelo perdão e generosidade de Deus:

Ó Senhor meu, pelo Escolhido, realiza nossos objetivos
e perdoa-nos o que passou, ó Generosíssimo.
E perdoa, meu Deus, todos os muçulmanos,
por meio do que recitam na Mesquita de
Al-Aqsa e no Nobre Santuário,
Pelo grau daquele cuja casa é o santuário de Al-Tayba
e cujo simples nome é um dos mais poderosos juramentos.
Está completa, agora, esta Burda do Escolhido;
que Deus seja louvado no começo e no fim.
O número de seus versos é de cento e sessenta;
alivia por meio dela nossas aflições, ó Generosíssimo.

Palavras finais da qasida burda

A Burda é um poema de esperança, inspirando geração após geração. Uma das muitas coisas belas sobre a Qasida é o estado de fragilidade em que o autor se apresenta, não fazendo reivindicações de grandeza. Porque a Burda não é apenas para o santo e o erudito; a Burda é para santos e pecadores, para estudiosos e leigos. Ao descrever e elogiar o grande exemplo do Profeta ﷺ, a Burda serve como um modelo perfeito de redenção, purificação e iluminação

Crítica e Defesa da Burda

A crítica à Burda é um fenômeno relativamente recente. Ao longo dos 800 anos desde que o poema foi composto, centenas de estudiosos clássicos louvaram a obra e escreveram comentários sobre seus significados e méritos. A crítica à Burda é bastante rara em comparação, e quase todos os argumentos contra ela foram apresentados nos últimos 50 anos.

A crítica mais comum é de que o Imam atribui qualidades ao profeta ﷺ que podem ser apenas atribuídos a Allah, como por exemplo seu pedido direto de intercessão ao profeta ﷺ. Como se trata de uma questão teológica mais complexas, pretendemos dedicar um texto do nosso blog apenas para esse tema, tawassul e istighatha, se Deus nos permitir.

Como recitar a Qasida Burda

Segue aqui algumas dicas que podem te auxiliar na recitação da Qasida:

  • Tenha uma intenção clara ao recitar;
  • Buscar compreender os significados de cada verso;
  • Recitar melodiosamente;
  • Repetir o refrão (ou seja, mawla ya salli wa sallim…) após cada verso, ou pelo menos a cada 10 versos.

Existem diferentes melodias que podem ser usadas na recitação, aqui selecionamos algumas referências para te ajudar:

  • Canção feita por grupo marroquino aqui.
  • Canção feita por grupo turco aqui.
  • Canção feita por grupo sírio aqui.
  • 40 diferentes melodias da burda aqui.
  • Canção feita por grupo indiano aqui.


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Referências

1- Livro Qasida Burda: A Canção do Manto publicado pela Editora Bismillah à venda aqui na nossa loja on-line;

2- https://www.imamghazali.org/blog/introduction-to-qasidah-burdah