A boa vizinhança no Islam
Se você já viveu em algum país islâmico ou conhece alguém que já teve essa experiência, provavelmente já viveu ou escutou histórias incríveis sobre boa vizinhança, principalmente de casos vindos de regiões islâmicas mais simples e tradicionais, longe das grandes cidades cada vez mais ocidentalizadas.
Nós, da equipe da Editora Bismillah, já tivemos a oportunidade de morar em bairros simples em duas cidades diferentes do Marrocos, e em ambos os casos a recepção dos vizinhos foi muito diferente dos costumes brasileiros. Em um dos casos, um grande exemplo de vizinho nos dava um delicioso cuscuz todas as sextas feiras e, junto, uma cesta de frutas da estação que duravam a semana toda. Na Festa do Sacrifício, são tantos vizinhos dando uns aos outros a carne que eles próprios sacrificaram que não é incomum vizinhos terem que recusar o presente por não ter mais espaço na geladeira e freezer, em razão de já terem recebido tantos alimentos. E a boa vizinhança não é apenas troca de alimentos, mas também a troca de apoio mutuo para todas as situações da vida.
No livro A Thinking Person’s Guide to Islam (Manual de Islam para Pessoas Inteligentes, na lista de livros a serem publicados pela Editora Bismillah), o autor Príncipe Ghazi bin Muhammad fala sobre o tema no capítulo sobre Jihad, citando os seguintes textos do Alcorão e dos hadiths:
“Adorai a Deus e não Lhe atribuais parceiros. Tratai com benevolência vossos pais e parentes, os órfãos, os necessitados, o vizinho próximo, o vizinho distante, o companheiro, o viajante e os vossos servos, porque Deus não ama os arrogantes e presunçosos” (Al-Nisa’, 4.36)
“Qualquer um que acredite em Deus e no Último Dia, que se comporte com excelência com seu vizinho.” (Muslim)
Estes são apenas alguns exemplos. No Alcorão, existem ao menos 5 referências aos vizinhos (https://m.wordofallah.com/askquran/neighbour/), e, nos hadiths, ao menos 65 referências listadas pelo Daily Hadith Online.
O tema da boa vizinhança era tão recorrente que o Profeta Muhammad (que a paz de Deus esteja com ele) disse: “Gabriel me aconselhou a ser bom com os vizinhos com tal insistência que até pensei que ele os tornaria meus herdeiros. ” (Ibn Mājah)
Mas na prática, o que significa tratá-los bem?
Listamos 10 deveres para com o vizinho reconhecidos na religião islâmica:
- Deve-se ajudá-lo se ele pedir ajuda;
- Deve-se emprestar-lhe dinheiro se ele precisar de um empréstimo;
- Não se deve bloquear o vento, aumentando a altura da casa sem a permissão dele;
- Não se pode perturbá-lo e aborrecê-lo;
- Deve-se dar a ele uma parte dos alimentos que você comprar; se isso não for possível, traga suas compras para casa em silêncio e não deixe seus filhos as levarem para fora, para não despertar o ciúme dos filhos dele;
- Deve-se visitá-lo (e, se preciso, cuidar dele) quando ele estiver doente;
- Deve-se comparecer ao funeral quando ele morrer (e participar dos preparativos para o enterro);
- Se ele cometer um pecado, deve-se evitar divulgá-lo;
- Deve-se parabenizá-lo se ele tiver boa sorte;
- Deve-se procurá-lo e manifestar pesar e sofrimento se uma calamidade lhe acontecer.
Esses direitos cabem não somente aos vizinhos muçulmanos, mas também aos não muçulmanos. Na verdade, o fortalecimento dos laços de vizinhança é, depois do fortalecimento dos laços familiares, o elemento mais importante para constituir-se uma comunidade forte, com membros ligados por vínculos de gratidão e amor mútuo. É isso que o Islam prega para suas comunidades em qualquer lugar do mundo, e que se encontra implementado nos lugares que ainda não foram invadidos pelo individualismo e o isolacionismo modernos.
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